O FIM DA
AGONIZANTE RELAÇÃO PSB/PT.
A decisão de deixar o governo começou a amadurecer há dois
meses, em São Paulo. Na quarta-feira (18), na reunião em que Eduardo Campos
oficializou o fim da aliança, Dilma teria passado a maior parte do tempo
“falando de Síria e Obama”.
A decisão do PSB de deixar o governo após mais de 10 anos de
parceria com o PT não surgiu da noite para o dia. A relação sofre desgaste
contínuo desde que começou a se especular a candidatura presidencial do
governador de Pernambuco, e presidente da legenda,Eduardo Campos, no ano que
vem. Mas foi há dois meses, em uma reunião em São Paulo, que a decisão ganhou
corpo. O diretório paulista, em um encontro que reuniu centenas de delegados do
partido, firmou posição pela saída do governo em setembro e, como o eleitorado
paulista corresponde a 20% do nacional e já havia grande pré-disposição da
bancada federal em rachar a aliança com o PT, a saída tornou-se questão de
tempo.
Na semana passada, terminou de amadurecer. Segundo os
socialistas, a presidente Dilma Rousseff passou a adotar um tom mais
“agressivo”. O principal ministro socialista, Fernando Bezerra, da Integração
Nacional, recebeu uma ligação de seu colega, o ministro da Educação, Aloísio
Mercadante, “meio que dando um ultimato”, segundo um membro da executiva
nacional. Então, Bezerra disse a Campos que não havia mais condições de
permanecer no Governo, pois a situação estava ficando “muito constrangedora”.
Essa situação, aliada a forma como os governadores do PSB estavam sendo
tratados nos últimos meses, com “muitas brincadeirinhas” por parte do PT, foi
decisiva para que o partido optasse pelo racha. “Ela (Dilma) não tem noção. Se
fosse o Lula, ia ter passado um pano na história, enrolado, mas ela não sabe
fazer. Botar pernambucano e gaúcho na parede não é muito inteligente”, disse o
membro da executiva.
Segundo os socialistas, durante a conversa com Campos, ontem
à tarde, a presidente Dilma teria adotado uma postura, no mínimo, exótica. Ao
invés de focar no cenário político, ela teria passado a maior parte do tempo
“falando de Síria e Obama”. Segundo os correligionários de Campos, não havia um
deputado na Câmara que acreditasse, até a semana passada, que o PSB
efetivamente deixaria o Governo. “A repercussão foi ótima. As pessoas não estão
acostumadas a ver gente dizer não para cargos. Para quem tinha dúvida que
Eduardo é candidato, a dúvida não existe mais”, disse um socialista.
As maiores resistências dentro do partido, em deixar o
governo, sempre vieram dos irmãos Ferreira Gomes, Cid e Ciro, e do governador
capixaba, Renato Casagrande. De Ciro, na reunião que oficializou a posição do
partido, se esperava alguma “espanadinha”, que só viria no final da reunião.
Alguns socialistas acreditam que ele e Cid sairão do partido, outros crêem que
com o tempo eles se acomodarão, já que a reação à decisão foi mais tranqüila do
que se imaginava. Casagrande não participou pessoalmente da reunião final, mas
foi avisado por telefone. Mencionou que sua aliança estadual inclui o PT, e que
isso não tende a mudar. No Espírito Santo, a tendência é um palanque duplo
PT/PSB.
Se há um diretório que comemora em especial a decisão da
cúpula nacional é, sem dúvidas, o paulista. O PSB do estado apóia o governador
Geraldo Alckmin (PSDB) e o deputado federal Márcio França (PSB), presidente
estadual do partido, é cotado para ser seu vice no ano que vem. França acredita
que o sonho de Alckmin é atrair o PMDB e dar o cargo de vice para o partido,
mas acha a hipótese praticamente inviável, já que Paulo Skaf (PMDB) trabalha
diuturnamente para ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes e o
vice-presidente Michel Temer não teria condições de explicar ao PT que, no
maior estado do país, o partido apoiaria o PSDB. Assim, França acredita que
suas chances de ser vice são grandes, o que faria com que a candidatura de
Alckmin se tornasse um palanque duplo para presidenciáveis. Tanto o senador
Aécio Neves, pré-candidato tucano, quando Eduardo Campos teriam como base em
São Paulo a chapa PSDB/PSB.
Fonte: Leopoldo Matheus/Época
Foto: Elza Fiúza/ABr
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